NÃO SOU SÓ EU que acho isso um PÉSSIMO EXEMPLO

Hoje é domingo, dia de entrevista especial no Corrida no Ar News. O tema de hoje toca em um ponto que venho observando com frequência e que tem me incomodado: pais levando filhos pequenos para correr provas oficiais que não permitem a participação de menores.

Caso você não saiba, oficialmente no Brasil, é preciso ter 14 anos para correr uma prova de 5 km. No entanto, virou moda ignorar essa regra, muitas vezes em busca de visibilidade e likes nas mídias sociais.

Para discutir o impacto real disso, conversei com Everton Santana, Para discutir o impacto real disso, conversei com Everton Santana, psicólogo do esporte, especialista em Ciências da Performance Humana e mestrando em Educação Física pela UFRJ. Ele também é membro do Grupo de Trabalho da infância e adolescência no esporte da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte (ABRAPESP)

O perigo de pular fases

O Everton foi categórico: existem etapas de desenvolvimento que precisam ser respeitadas. O modelo ideal, seguido inclusive pelo Comitê Olímpico Brasileiro, é que a criança primeiro brinque com o esporte, depois aprenda a treinar e, só então, aprenda a competir.

Quando os pais colocam uma criança em uma prova de adultos, estão saltando fases cruciais do desenvolvimento psicossocial. A criança deve estar descobrindo o esporte de forma lúdica, entendendo seu corpo e se movimentando, sem a pressão de performance ou a idealização de se tornar um atleta de elite precocemente.

Vale lembrar que o cérebro humano, e consequentemente a personalidade, continua em desenvolvimento até os 24 ou 25 anos. Colocar pressões exageradas em um ser humano que não está pronto para lidar com elas é um caminho certo para o adoecimento mental ou para o abandono precoce do esporte.


A vaidade das redes sociais

Não podemos ignorar o papel das redes sociais nisso. Muitas vezes, a criança é exposta correndo com roupas iguais às dos pais, em uma busca por destaque e notoriedade. A rede social se tornou um atalho para o prestígio, assim como o futebol foi na década de 90, e as crianças acabam sendo utilizadas nesse processo.

O exemplo ético

Além da questão psicológica e física, existe o aspecto moral. Perguntei ao Everton se burlar a inscrição e levar a criança sem número de peito não seria um péssimo exemplo. A resposta é óbvia: sim.

Os pais são a primeira referência de limites para os filhos. Se ensinamos que é possível dar um “jeitinho” para participar de uma prova proibida para a idade delas, estamos ensinando que não há limites e que vale tudo para chegar onde se deseja.

O caminho correto

Não se trata de impedir que as crianças corram. Pelo contrário, o esporte é fundamental. Mas existem formas sadias de fazer isso.

Se o seu filho gosta de correr, procure clubes formadores, escolinhas de atletismo ou instituições preparadas para o desenvolvimento infantil. Existem também provas infantis específicas, com distâncias adequadas (como 2 km) e foco na diversão, que respeitam a idade da criança.

A especialização e a decisão de seguir um esporte de alto rendimento devem ocorrer mais tarde, por volta dos 15 ou 16 anos. Até lá, deixe a criança experimentar, brincar e se desenvolver plenamente.


E por hoje é só, pessoal.

Muito obrigado pela leitura e até amanhã!

Sérgio Rocha


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